segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Meditação sobre a Agonia de Cristo no Horto das Oliveiras

"(...) Considera, pois, primeiramente, como, acabada aquela misteriosa Ceia, foi-se o Senhor com seus discípulos ao Monte das Oliveiras a fazer oração antes que entrasse na batalha de sua Paixão, para nos ensinar como em todos os trabalhos e tentações desta vida hemos sempre de recorrer à oração como a uma sagrada âncora, por cuja virtude, ou nos será tirada a carga da tribulação, ou se nos darão força para levá-la, que é outra graça maior. Para companhia deste caminho tomou Ele consigo aqueles três mais amados discípulos, S. Pedro, S. Tiago e S. João, os quais haviam sido testemunhas de sua gloriosa transfiguração, para que eles mesmos vissem quão diferente figura tornava Ele agora por amor dos homens, Ele que tão glorioso se lhes havia mostrado naquela visão. E para que entendessem não serem menores os trabalhos interiores de sua alma que os que por fora começava a revelar, disse-lhes aquelas tão dolorosas palavras: Triste está minha alma até à morte. Esperai-me aqui, e velai comigo (Mt 26,38). Acabadas estas palavras, apartou-se o Senhor dos discípulos coisa de um tiro de pedra, e, prostrando em terra com grandíssima reverência, começou sua oração, dizendo: Pai, se é possível, trespassa de mim este cálice, mas não faça como eu quero, senão como tu (Mt 26,39). E, feita esta oração três vezes, à terceira foi posto em tão grande agonia, que começou a suar gotas de sangue, que iam por todo seu sagrado Corpo fio a fio até cair em terra. Considera, pois, o Senhor neste passo tão doloroso, olha como, representando-se-lhe ali todos os tormentos que Ele havia de padecer, apreendendo perfeitissimamente tão cruéis dores como se preparavam para o mais delicados dos corpos, pondo-se-lhe diante todos os pecados do mundo (pelos quais padecia) e o desagradecimento de tantas almas, que não haviam de reconhecer este benefício, nem se aproveitar de tão grande e custoso remédio, foi sua alma em tanta maneira angustiada, seus sentidos e carne delicadíssima tão turbados, que todas as forças e elementos  de seu corpo se destemperaram, e a carne bendita abriu-se por todas as partes e deu lugar a que o sangue manasse por toda ela em tanta abundância, que corresse até a terra. E, se a tal estava a carne, que só de ricochete padecia essas dores, que tal estaria a alma, que diretamente as padecia?(...)"

Tratado da Oração e Meditação, São Pedro de Alcântara.

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